O Piauí segue mostrando sua força na produção audiovisual e na arte de contar histórias que nascem da própria terra. O documentário “Acorda, Cajueiro”, dirigido por Guga Carvalho, é o mais novo exemplo desse compromisso com a valorização da cultura e dos saberes populares do Estado.
Com 47 minutos de duração, o filme foi o único do Piauí selecionado para compor o 3º Festival Curta! Documentários, realizado pela Claro, e com exibição na maior plataforma de documentários do Brasil, o canal Curta. O festival é reconhecido pela visibilidade nacional e internacional que proporciona aos filmes escolhidos.
Lançado em 2025, o filme traz à tona uma prática ancestral que, mesmo conhecida por poucos, carrega grande significado para as comunidades rurais do interior piauiense: a profecia da chuva. A partir da vivência de três agricultores experientes, Silvestre Pereira, Antônio Zeferino e José Inácio, o documentário registra o conhecimento passado de geração em geração sobre a leitura de sinais da natureza para prever o período chuvoso.
“Era um assunto que eu não conhecia, como a maioria dos piauienses. Fiquei impressionado com a capacidade deles de ler a natureza de outra maneira”, relata Guga Carvalho. O interesse pelo tema surgiu por volta de 2016 e se intensificou depois de uma visita a um encontro anual de pesquisadores e profetas da chuva realizado em Pedro II. Após anos de pesquisa e mais de 30 entrevistas com diferentes profetas da região, o diretor definiu o recorte final.
O documentário alterna cenas em preto e branco e colorido, com um ritmo mais lento e contemplativo, como forma de valorizar a conexão com a natureza e a poética desse saber popular. Com olhar sensível, o filme também discute o risco de desaparecimento dessa cultura. Para o diretor Guga Carvalho, trata-se de um registro importante de uma geração que chega aos 80 anos e que, possivelmente, representa a última linhagem desses sábios.
“Esse filme é um testemunho da força e da resistência dessa tradição. É uma forma de não deixar essa história morrer, visto que estamos, talvez, na última grande geração de profetas da chuva. As novas gerações estão cada vez mais conectadas com as tecnologias, com outros modos de vida. Então, mesmo que ainda existam profetas no futuro, acredito que será algo diferente. Não queremos que essa história se perca. Por isso, o documentário é também uma forma de conhecer mais dessa cultura tão importante para o Nordeste, que surgiu como uma resposta ao grande desafio da seca”, afirmou o diretor Guga Carvalho.
“Acorda, Cajueiro” é um exemplo de como o cinema feito no Piauí segue contribuindo para o fortalecimento da identidade cultural do Estado e levando as histórias do povo piauiense para além das fronteiras regionais. O filme contou com patrocínio do Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), que reconheceu a importância de preservar e divulgar essa memória coletiva.
O documentário completo está disponível online até o dia 2 de julho, no link: https://festivalcurtadocs.org.br//filme/?name=acorda_cajueiro. O trailer também está disponível em: https://vimeo.com/963246907.
Dia Estadual dos Profetas da Chuva
O governador Rafael Fonteles sancionou, em abril deste ano, a Lei Nº 8.658, que incluiu no Calendário Oficial de Eventos do Piauí o Dia estadual dos profetas da chuva, a ser comemorado, anualmente, no dia 6 de janeiro.
A lei explica que profetas da chuva são homens e mulheres do sertão nordestino, que utilizam conhecimentos empíricos e tradicionais de observação detalhada da natureza, como flora, fauna, astros e fenômenos atmosféricos, combinados aos saberes ancestrais ligados ao povo indígena, quilombolas e sertanejos, para prever o clima, especialmente as chuvas.
O Dia estadual dos profetas da chuva tem como objetivo partilhar experiências; revitalizar a cultura através da inserção de novos membros; realizar escuta ativa sobre as insatisfações sociais em relação às mudanças climáticas, suas consequências e os avanços das políticas públicas no setor de preservação do meio ambiente; estimular o ensino, aprendizado e prática sustentável de cultivo da terra com culturas adaptadas ao clima semiárido; realizar rodas de prosas com a finalidade de manter a cultura; incentivar a realização de encontros de profetas da chuva, buscando atrair turismo cultural e impulsão econômica regional; além de incentivar que os museus e órgãos de registros oficiais registrem tais saberes.